As doenças crônicas e a desigualdade caminham lado a lado em muitas realidades, afetando principalmente populações mais vulneráveis. Para Paulo Henrique Silva Maia, Doutor em Saúde Coletiva pela UFMG, compreender essa relação sob a ótica epidemiológica é essencial para a formulação de políticas públicas eficazes e equitativas. Ao analisar os fatores sociais e estruturais que determinam a saúde, percebe-se que a carga das doenças crônicas não é distribuída de forma homogênea na população.
Condições como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e respiratórias estão diretamente relacionadas a determinantes como renda, escolaridade, acesso a serviços de saúde e ambiente urbano. Em um cenário de desigualdade, o risco de adoecimento aumenta, assim como as dificuldades no diagnóstico precoce e no tratamento contínuo.
Desigualdade social como determinante das doenças crônicas
A desigualdade social é um fator decisivo na incidência e no agravamento das doenças crônicas. Pessoas com menor renda tendem a viver em regiões com infraestrutura precária, alimentação inadequada, exposição a poluentes e dificuldade de acesso a cuidados médicos regulares. De acordo com Paulo Henrique Silva Maia, esse cenário contribui para o surgimento precoce dessas condições e dificulta sua gestão ao longo da vida.
A ausência de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde e a prevenção de doenças acentua o problema. O sistema de saúde, por vezes, age de forma reativa, atendendo casos já avançados e com complicações. Essa lógica onera os serviços públicos e compromete a qualidade de vida dos pacientes, criando um ciclo de exclusão e vulnerabilidade.
Perfil epidemiológico e concentração dos casos crônicos
O perfil epidemiológico das doenças crônicas evidencia a sua concentração em regiões periféricas e entre populações com menor escolaridade. Conforme destaca Paulo Henrique Silva Maia, a análise territorial dos dados revela bolsões de alta incidência, muitas vezes ignorados por políticas de saúde centralizadas. Esse padrão indica que o adoecimento não é aleatório, mas influenciado por contextos socioeconômicos bem definidos.

A prevalência dessas enfermidades também varia conforme o gênero e a raça, com mulheres negras, por exemplo, apresentando maior risco de desenvolver hipertensão e diabetes. Esse dado reforça a necessidade de olhar interseccional sobre os determinantes da saúde, considerando como diferentes formas de desigualdade se somam no aumento da carga de doenças crônicas em grupos específicos.
Barreiras no acesso ao diagnóstico e tratamento contínuo
O tratamento das doenças crônicas exige acompanhamento regular, acesso a medicamentos e mudanças no estilo de vida. No entanto, muitas pessoas em situação de vulnerabilidade não conseguem manter esse padrão de cuidado. Segundo Paulo Henrique Silva Maia, a falta de transporte, a baixa oferta de unidades básicas de saúde e a escassez de profissionais qualificados nas regiões mais carentes dificultam o controle das enfermidades.
Em comunidades com menor nível de escolaridade, há menor adesão a campanhas de prevenção, menor reconhecimento dos sintomas e mais resistência ao uso contínuo de medicamentos. Esses fatores contribuem para o agravamento do quadro clínico, aumentando internações hospitalares e diminuindo a expectativa de vida da população afetada.
Caminhos para reduzir o impacto das doenças crônicas com equidade
Para reduzir o impacto das doenças crônicas em contextos desiguais, é fundamental integrar ações de saúde com políticas sociais amplas. Paulo Henrique Silva Maia explica que a promoção da saúde deve estar atrelada a investimentos em educação, saneamento, alimentação adequada e mobilidade urbana. A vigilância epidemiológica também precisa ser fortalecida para identificar rapidamente os territórios de maior risco e direcionar recursos de forma inteligente.
A capacitação de profissionais para atuarem com sensibilidade social, o incentivo à atenção primária à saúde e a criação de programas comunitários de prevenção são estratégias eficazes. As doenças crônicas continuarão a desafiar os sistemas de saúde nos próximos anos, especialmente em países marcados pela desigualdade. No entanto, o olhar epidemiológico permite enxergar o problema com profundidade e formular soluções que vão além do tratamento individual.
Autor: Lauvah Inbarie