A crise na saúde indígena no Tocantins tem se intensificado nos últimos meses e escancarado uma realidade de negligência institucional que já dura décadas. Dez indígenas morreram sem sequer receber diagnóstico médico em um intervalo de apenas sete meses, o que expõe a gravidade da crise na saúde indígena no Tocantins e coloca em xeque a eficácia das políticas públicas voltadas aos povos originários. Famílias inteiras convivem diariamente com o medo da morte por causas evitáveis, como doenças respiratórias, diarreias e infecções simples que poderiam ser tratadas com medicamentos básicos e atendimento médico primário. A ausência de estrutura adequada e de profissionais disponíveis nas aldeias é um dos principais gargalos enfrentados. As comunidades relatam que muitas vezes precisam percorrer dezenas ou até centenas de quilômetros para buscar atendimento, o que, em situações críticas, pode ser fatal.
A crise na saúde indígena no Tocantins é também marcada pela escassez de exames médicos e transporte sanitário. Muitos indígenas morrem sem saber do que estavam doentes e, em muitos casos, os sintomas sequer são documentados por falta de profissionais capacitados para realizar o primeiro atendimento. Casos emblemáticos, como o de Kunityk Apinajé, um ancião de 92 anos que aguarda manutenção de sua bolsa de colostomia sem previsão de atendimento, ilustram o descaso com a saúde indígena. Outro exemplo chocante é o de Jocasta Xerente, gestante de cinco meses que ainda não fez exames de pré-natal por falta de infraestrutura mínima na aldeia onde vive. Esses são apenas dois retratos entre centenas de situações semelhantes que escancaram o abandono das comunidades por parte do poder público. O transporte, que deveria ser garantido pelas autoridades, também é inexistente em muitas localidades, agravando ainda mais a crise na saúde indígena no Tocantins.
A falta de atendimento básico também tem comprometido a saúde de recém-nascidos e crianças pequenas. Marcos, um bebê de apenas um mês, perdeu a mãe no parto e até hoje não realizou nenhum exame de rotina como o teste do pezinho. Ele vive em uma aldeia onde não há médico, enfermeiro ou qualquer tipo de assistência médica regular. A crise na saúde indígena no Tocantins tem atingido com força especial os mais vulneráveis, como crianças, idosos e mulheres grávidas. Em muitas dessas comunidades, os agentes de saúde não conseguem entrar com frequência suficiente, o que leva a um cenário de desinformação sobre as doenças que circulam, contribuindo para o agravamento de enfermidades simples que poderiam ser tratadas com remédios de baixo custo. Esse abandono sistemático revela que não há uma prioridade real na atenção à saúde dos povos originários na região.
A Defensoria Pública do Estado do Tocantins e a Defensoria Pública da União têm tentado preencher esse vácuo de atuação do Estado por meio de mutirões de atendimento nas aldeias mais afetadas. Esses mutirões têm revelado a verdadeira extensão da crise na saúde indígena no Tocantins, com dezenas de casos urgentes que se acumulam à espera de resoluções que não chegam. Durante uma das visitas, os defensores constataram a ausência de transporte, a falta de exames básicos e a carência de medicamentos. A proposta agora é promover reuniões com representantes dos governos federal, estadual e municipal para buscar soluções conjuntas e emergenciais. No entanto, lideranças indígenas têm demonstrado ceticismo quanto à efetividade dessas ações, já que esse tipo de encontro é frequente, mas raramente resulta em mudanças reais no dia a dia das aldeias.
A Secretaria Estadual de Saúde afirma estar apurando as denúncias e garantiu que tem compromisso com o atendimento humanizado e de qualidade a todos os usuários do SUS, inclusive os indígenas. O Ministério da Saúde também declarou que as equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) realizam atendimentos nas aldeias com frequência. Entretanto, os relatos colhidos nas próprias comunidades indígenas demonstram que essa atuação é esporádica e insuficiente para lidar com a dimensão da crise na saúde indígena no Tocantins. A desconexão entre o que é dito nas instâncias governamentais e a realidade vivida pelos povos indígenas é um dos maiores obstáculos na construção de políticas eficazes. Além disso, faltam medidas estruturais que garantam a presença contínua de profissionais da saúde nas regiões mais isoladas.
A conselheira de saúde indígena Marlucia Apinajé afirma que a situação já ultrapassou todos os limites toleráveis. Segundo ela, o povo está cansado de esperar por ações que não chegam e denuncia que há uma sensação generalizada de abandono. Marlucia já encaminhou diversos documentos às autoridades competentes relatando a crise na saúde indígena no Tocantins, mas não obteve respostas efetivas. Essa ausência de retorno por parte dos órgãos públicos só reforça a percepção de que os direitos constitucionais dos povos indígenas estão sendo sistematicamente ignorados. A conselheira enfatiza que a luta pela saúde não é apenas por assistência médica, mas pelo direito de viver com dignidade, respeitando os modos de vida e as necessidades específicas de cada etnia.
Estudos recentes mostram que a mortalidade infantil entre indígenas é mais que o dobro da registrada entre a população não indígena. As principais causas dessas mortes são doenças respiratórias, diarreias e infecções que poderiam ser tratadas com ações simples de prevenção e atendimento básico. Essa estatística reforça a gravidade da crise na saúde indígena no Tocantins e evidencia que estamos diante de uma emergência humanitária. As lideranças pedem que os recursos sejam destinados com urgência e que sejam elaboradas políticas públicas com participação direta dos povos indígenas. Sem essa escuta ativa e sem investimento sério em estrutura de saúde nas aldeias, a tragédia tende a se repetir com ainda mais frequência nos próximos meses.
A crise na saúde indígena no Tocantins não é um problema isolado, mas um reflexo de décadas de negligência e marginalização institucional. Resolver essa situação exige mais do que promessas ou ações pontuais. É necessário garantir presença constante do Estado, respeito à autonomia dos povos indígenas e investimentos duradouros que assegurem saúde de qualidade para todas as comunidades. O clamor que vem das aldeias precisa ser ouvido com urgência e transformado em ações concretas. Enquanto isso não acontece, mais vidas indígenas seguem sendo perdidas por motivos absolutamente evitáveis. A crise na saúde indígena no Tocantins continuará sendo uma ferida aberta na consciência do país enquanto não forem tomadas medidas reais e eficazes.
Autor: Lauvah Inbarie